sábado, 9 de abril de 2011

O QUE NÃO FOI EXPLICADO A EIKE BATISTA

O QUE NÃO FOI EXPLICADO A EIKE BATISTA
08/04/2011 18:35 h
O basquete é muito mais do que um negócio.

Não podemos determinar o sucesso ou o fracasso de uma equipe, jogo, campeonato, ligas, etc., através de parâmetros fixos, não variáveis.

Há que se contar com a evolução temporal desses parâmetros, baseada em fatos e eventos que acontecem numa velocidade absurda e que se modificam a cada decisão individual dos elementos participantes.
O basquete é a teoria do caos aplicada ao esporte.

Como justificar que um jogador que acerte apenas um de todos os seus arremessos venha a se transformar num ídolo nacional caso essa cesta seja aquela que leva sua equipe à vitória?

Como explicar um atleta que acerte todos os seus arremessos seja execrado por errar o último e decisivo chute, que traria a vitória a sua equipe?

Como ensinar a um jogador que o mesmo tipo de arremesso, do mesmo lugar, em dois momentos semelhantes do jogo, possa ser uma grande sacada uma vez e um grande engano na outra?

Como aprender que fundamentos são essenciais, mas não ganham jogo “per se”, que jogadas são necessárias, mas podem não adiantar ou mesmo arruinar um ataque, que defesa é fundamental para a vitória, mas nunca se viu um jogo terminar, por exemplo, 3 a 2?

Por que podemos pegar mais rebotes, roubarmos mais bolas, batermos mais lances-livres, arremessarmos mais vezes, fazermos muito mais pontos que a nossa média e mesmo assim perdermos o jogo?

Como entender que a primeira ação defensiva é o rebote ofensivo, ou a diferença entre bola roubada e bola recuperada para o sucesso ou o fracasso de um contra-ataque?

O elemento que participa desse caos, que é o basquete, seja ele jogador, técnico, dirigente (de time ou de federação), juiz, auxiliar e mesmo jornalistas, blogueiros, etc., têm o poder de mudar o jogo de acordo com sua ação.

O basquete é um dos poucos esportes em que aprimorar o indivíduo provoca uma melhora imediata em sua equipe e, por isso, ensinar, organizar e dar credibilidade a esse esporte é muito mais complicado que fazer o mesmo em outras esferas.

A característica comum a todos do basquete é a capacidade de pensar rápido e de decidir mais rápido ainda, de esquecer seus erros para apenas lembrar-se deles como material a ser corrigido, de desafiar não só as regras como conceitos predeterminados, já que tudo muda rapidamente durante um jogo, uma reunião técnica, um campeonato, um playoff.

Se isso pudesse ser exercido apenas dentro do campo de jogo certamente teríamos menos caos e... menos graça e divertimento no jogo de basquete.

Nós somos de um tipo de pessoa que pensa e diz o que pensa, que se acredita importante na tomada de todas as decisões e que temos grande possibilidade dessas crenças darem resultados, o que nos faz brigarmos entre nós com grande paixão (pelo jogo) e tomarmos atitudes que, se nos levam parecer desorganizados, por outro lado podem nos levar a conquistas jamais imaginadas por qualquer outro esporte, pois uma ação do indivíduo no basquete muda o jogo, o resultado, o campeonato e pode mudar o próprio basquete.

A cultura esportiva brasileira também não nos ajuda, pois essa é baseada apenas em resultados imediatos e não valoriza a formação de jogadores.

O basquete não é exceção à realidade cotidiana do esporte brasileiro onde é preciso ganhar tudo, ganhar sempre e, depois de conquistado tudo, tornar a ganhar. Sempre.

Assim vemos, em todos os esportes, treinadores valorizando qualidades e escondendo defeitos de seus atletas; pais se atracando com outros pais, com seus próprios filhos (e os dos outros), juízes e diretores pela vitória em um campeonato menor; diretores pressionando treinadores pela vitória a qualquer custo; torcedores invadindo campos, clubes e vestiários pela derrota a um rival tradicional, enfim, ou vencemos ou é o fim. Pode escolher.

Quando a competição envolve a seleção nacional, essa realidade é ainda mais exacerbada e os ânimos realmente se alteram em qualquer derrota.

Países como Espanha e Itália já não são assim e valorizam seus campeonatos, suas ligas, seus atletas. Sabem que a formação do atleta é que sustenta qualquer esporte e investem nisso, com resultados surpreendentes.

Entretanto, a realidade do esporte brasileiro se tinge de nuances dramáticas quando aplicada ao basquete porque nós temos uma NBA no nosso caminho e a possibilidade de uma vitória em Mundiais ou Olimpíadas hoje só aconteceria se os Estados Unidos deixassem.

Quer mais mostras de organização e credibilidade de um esporte do que uma medalha de ouro em Mundial ou Olimpíada? Pois é, no basquete vai ser difícil se esse for o parâmetro.

Esse fato não nos impede de termos boas participações nessas competições, mas se as variáveis a serem analisadas para investimento forem as conquistas dos outros esportes, então teremos que aceitar nosso destino de “enfiar a viola no saco” e vermos nossos melhores atletas fazerem sucesso na própria NBA e na Europa enquanto que o nosso esporte é considerado menor, sem a mínima oportunidade de continuarmos a procurar o nosso melhor caminho por via de uma análise comparativa fria, calculista e sem levar em consideração nossa maior virtude, o caos.

Eu prefiro viver esse caos, pois sei que ninguém que é basqueteiro é um ser conformado com a situação, seja ela qual for.

Podemos estar em qualquer lado do jogo, seja na organização, dentro ou fora da quadra, nos blogs, nos sites, enfim, basqueteiro é basqueteiro, portanto pensa e age de acordo com que acontece no momento.

Isso pode parecer desorganização, mas foi o que nos levou às nossas maiores conquistas e se hoje estas ainda não continuam a acontecer é porque estamos internamente em ebulição para uma explosão de sucesso que nunca antes tivemos.

Parado ninguém do basquete fica e o nosso “modus operandi” pode não ser o mais adaptado à mostra como negócio, mas é o mais verdadeiro como esporte e nós preferimos brigar com tudo e todos a fingir ser o que não somos.

Embora muitos não se reconheçam aqui, assim somos nós.

Assim iremos ainda muito longe.
Marcel de Souza
marcel@databasket.com
Administração
www.databasket.com.br

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