Entre a realidade e o ufanismo
Caros amigos
Começam os Jogos Pan-Americanos e o Brasil tem um início maravilhoso conquistando medalhas importantes.
Junto com essas medalhas também vem o já conhecido ufanismo daqueles que transmitem os Jogos. De repente uma medalha transforma o país numa potência esportiva mundial.
Pensei que com a novidade da transmissão por outra rede que não fosse a Globo ficaríamos livres desses arroubos que levam a população a crer que somos realmente uma potência esportiva mundial. Mas não. Eis que, desde a abertura, a Record quer nos mostrar uma realidade que não condiz com a atual situação esportiva do país.
Cansamos de ver na câmera exclusiva os atletas fazendo seus trenzinhos e rodas para o delírio dos narradores que chegaram a dizer que o estádio se levantava para a companhar a alegria dos brasileiros, cuja delegação era a mais animada, a mais simpática, a mais colorida.
No primeiro dia de provas já registramos vários “momentos históricos” do nosso esporte.
Vocês devem estar pensando: o prof. Dante é contra o esporte brasileiro e contra ganhar medalhas. E eu afirmo que não.
Ganhar medalhas é ótimo, participar de competições internacionais é maravilhoso e essencial para o desenvolvimento do esporte e colocar o Brasil no cenário das maiores potências.
Mas daí tentar induzir a opinião pública que somos uma potência esportiva mundial é um grande exagero.
Temos sim grandes equipes, excelentes atletas e técnicos que se doam e se matam para representar o país que nem sempre dá a eles a devida importância e suporte. Na maioria das vezes isto só acontece quando essas equipes e atletas sobem ao pódium.
Ganhar uma ou outra medalha não significa ser potência. Gostaria de lembrar que os Jogos Pan-Americanos já deixaram de ser, há muito tempo, uma competição de primeira linha. A principal força mundial no esporte, manda suas terceiras, quartas ou quintas forças para essa competição. Além dos Estados Unidos quais as outras forças mundiais presentes nessa competição? Canadá, Cuba (já deixou de ser potência há muitos anos), Argentina?
Novamente, deixo claro que não sou contra e nem desdenho desta competição. Ela é importante como preparativo para os Jogos Olímpicos. Ela é importante para dar experiência a jovens atletas em competições internacionais. Aliás, no meu ponto de vista, deveríamos investir mais nesses jovens em competições como essas, mesclando com atletas mais experientes que as utilizam como preparação para Campeonatos Mundiais e Jogos Olímpicos.
Mas que não se tome o Pan como parâmetro para medir a força esportiva mundial de um país. Principalmente do nosso país.
Que potência somos se não temos uma política séria de desenvolvimento do esporte no país?
Que potência somos se grande parte de nossos atletas têm que procurar os centros mais desenvolvidos para aprimorar suas condições físicas, técnicas e táticas?
Que potência somos se nossa juventude não tem a oportunidade de praticar esportes de forma democrática através de programas que permitam o acesso fácil a essa prática?
Que potência somos se nossas aulas de educação física, principalmente nas escolas públicas estão desaparecendo?
Que potência somos se as escolas de educação física não preparam mais nossos jovens para exercer de forma adequada a função de professores e/ou técnicos esportivos?
Que potência somos se 90% do noticiário e programas esportivos se refere somente ao futebol ignorando completamente os demais esportes?
Claro que já melhoramos muito. Alguns esportes são referência no mundo. Alguns atletas são destaques em suas modalidades. Mas será que isto é suficiente para sermos uma potência esportiva mundial?
Não entendam essas minhas observações como um comportamento negativista. Apenas quero fugir do ufanismo e da tentativa de mostrar algo que não somos.
Sou “esporte” desde criancinha. Minha vida acadêmica e profissional sempre foi voltada para o esporte. E é por isso que quero que o esporte seja tratado de forma séria, carinhosa e realista.
Saúdo os atletas e treinadores que representam nosso país em qualquer competição. Saúdo os professores e treinadores que investem seu tempo e conhecimento para preparar crianças e jovens para a prática saudável do esporte. São todos verdadeiros heróis.
Que o Brasil possa ganhar todas as medalhas possíveis no Pan, nos Mundiais e nos Jogos Olímpicos. Mas vamos encarar a realidade para que talvez, daqui a alguns anos possamos ser, realmente, uma potência esportiva mundial
http://vivaobasquetebol.wordpress.com/2011/10/16/entre-a-realidade-e-o-ufanismo/
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