domingo, 8 de março de 2009

Dia Internacional da Mulher


Meninas dão exemplo de dedicação ao esporte
Duas atletas desconhecidas, apesar de promissoras, enfrentam dificuldades para vencer em suas modalidades


Fo­tos: ­João Má­rio ­Goes
Mar­celly é rea­lis­ta: ‘‘A vi­da ho­je não es­tá fá­cil e o es­por­te mui­tas ve­zes não ga­ran­te ­futuro’’
Toda mulher merece uma lembrança na data de hoje, mas para algumas vale uma homenagem especial pelo exemplo que dão às demais. Em anos anteriores, por ocasião do Dia Internacional da Mulher, a FOLHA reprisou histórias de atletas mais famosas do Paraná, como Natália Falavigna (medalhista olímpica em Pequim-2008 e ex-campeã mundial de taekwondo), Cleuza Maria Irineu (medalhista na Corrida de São Silvestre) ou Elisângela (medalha de bronze no vôlei em Sydney-2000). Este ano a FOLHA foi atrás de meninas desconhecidas do grande público. Meninas que estão no anonimato, mas nem por isso deixam de protagonizar histórias interessantes, de luta e de aposta no esporte. Reconhecimento elas talvez terão com o tempo, mas não se importam com a pequena divulgação de suas modalidades. O amor que têm pelo esporte é o que as mantêm na quadra.
Marcelly Chue Gonçalves, 17 anos, é, na opinião do seu treinador, Marival Mazzio Júnior, o maior destaque da equipe feminina Sub-18 de basquete de Londrina. É a categoria que representará a cidade nos Jogos da Juventude do Paraná (Jojups). A garota superou obstáculos envolvendo o basquete para mulheres desde os 10 anos, quando chegou a Londrina, vinda de Wenceslau Braz (Norte Pioneiro). '
'Como sempre gostei de esportes, ao chegar aqui comecei a treinar ao mesmo tempo as três modalidades que o meu colégio na época (Delta) oferecia para meninas: vôlei, ginástica rítmica e futsal. Mas eu não me fixava em nenhuma delas. Só me identifiquei mesmo foi com o basquete, alguns meses depois'', relembra. O problema é que o basquete era só para meninos.
Entre os meninos
Com isso, Marcelly teve que treinar durante um bom tempo com o time masculino da escola até que aparecessem meninas interessadas em também ingressar na modalidade. Somente um ano depois, em uma competição municipal chamada Copa do Futuro, a garota conseguiu jogar pelo Delta num time só de meninas. ''Éramos só seis e tinha apenas uma na reserva. O começo foi difícil, mas valeu a pena. Lembro que fomos campeãs daquela competição'', recorda Marcelly, que também jogou na ocasião torneios de futsal e vôlei.
Os anos se passaram e o esporte que consagrou a cestinha Hortência ganhou a simpatia de centenas de novas mulheres pelos clubes e colégios de Londrina. Hoje há várias equipes, no centro e na periferia, e Marcelly passou a treinar em novos locais: ACM, Colégio Barão do Rio Branco e desde 2006 está na equipe do Colégio Nobel, que dá bolsa de estudos às atletas e hoje abriga as principais jogadoras da cidade com até 17 anos.
Sem a mãe
O gosto pelo esporte era tanto que a garota, cujos pais são separados, preferiu ficar em Londrina do que ir para os Estados Unidos com a mãe, há cerca de sete anos. ''Aqui tinha o basquete, os meus amigos e também o meu pai, que eu largo por nada. Lá (EUA) seria uma vida muito diferente'', disse ela.
Os anos se passaram rápido, e Marcelly estudando, jogando e competindo - sua grande conquista foi o 3º lugar no Brasileiro Escolar de 2007, em João Pessoa. Até que chegou a hora da decisão em sua vida, como também acontece com todo atleta de esporte amador no Brasil. Seguir os estudos ou continuar como atleta? No final de 2008, com 17 anos, ela se viu diante da sinuca: ''rachar'' de estudar para Medicina ou se mudar para outra cidade para seguir jogando. ''Preferi a primeira opção porque é mais realista. A vida hoje não está fácil e o esporte muitas vezes não garante futuro'', diz, consciente. Marcelly foi bem no vestibular, mas não passou na primeira tentativa.
Para ela, ''viver do bastante'' (recebendo salário, numa grande equipe) seria seu maior sonho. ''Mas é uma coisa quase impossível de ser conseguir, ainda mais no Brasil, onde o nosso esporte tem pouco apoio. É mais fácil passar em Medicina'', compara.

Jaime Kaster
Reportagem Local

Nenhum comentário: