quinta-feira, 27 de setembro de 2007

CERTIFICADO DE INCOMPETÊNCIA

CERTIFICADO DE INCOMPETÊNCIA27/9/2007
Os técnicos do basquete masculino do Brasil, categoria que me incluo, acabam de receber da Confederação Brasileira de Basquete (CBB) o Certificado de Incompetência. Não quero polemizar e nem fazer criticas à vinda de um técnico estrangeiro (muito menos dizer que essa é uma decisão equivocada) - apenas quero constatar um fato.Quando tento entender porque chegamos a esse ponto, minhas reflexões sempre tomam o rumo dos questionamentos. Acho que os técnicos brasileiros são ótimos, me incluo entre os bons técnicos, e por isso não poderia cuspir no prato que me alimento ou tampouco falar sobre a qualidade dos meus companheiros de profissão. Por isso é humilhante pra mim ou pra qualquer técnico, receber um Certificado de Incompetência como esse. Quero entender porque somos considerados, aos olhos do mundo, maus técnicos.No mundo globalizado temos as mesmas informações, assistimos aos mesmos jogos e as mesmas fitas ou DVDs com educativos, lemos os melhores livros, pesquisamos nas mesmas fontes e, mesmo assim, não conseguimos bons resultados em competições internacionais faz um bom tempo. A pergunta que martela minha cabeça é: por que somos piores do que eles? Concluo que isso também é um fato, infelizmente. Eles são mais inteligentes do que nós? Eu mesmo não saberia responder hoje qual seria o técnico ideal para nossa seleção, já que os que considero como os melhores já tiveram seu tempo dedicado a seleção e não foram felizes como gostaríamos. Continuo questionando...Penso que técnicos e jogadores devem assumir sua parcela de responsabilidade, mas na verdade são os únicos que acabam assumindo e absorvendo as criticas (quase sempre injustas), porque são os personagens que se expõem mais. Afirmar que por termos jogadores atuando fora do Brasil, é fator que nos daria vantagem, só faz aumentar ainda mais a responsabilidade do técnico e dos atletas. Durante muito tempo ficamos fora das disputas internacionais importantes, das categorias de base até juvenil. Por que será que não conseguíamos resultados? Lembro-me de seleções de base sem Leandrinho, sem Varejão, sem Nenê. Onde estavam eles quando eram da base? Porque os técnicos não os convocaram? Lembro do Varejão jogando um Brasileiro Juvenil em Uberlândia, pelo Espírito Santo, por não ter sido convocado para a seleção paulista. Quantos jogadores da atual seleção defenderam o Brasil quando eram infanto, cadete ou juvenil? Tivemos um grupo de jogadores de base trabalhando juntos nesses anos, pra chegarmos em 2007 e disputar um Pré- Olímpico?Só agora percebo que formulei perguntas erradas e bastaria apenas uma pergunta para que eu encontrasse a resposta que precisava: O que os técnicos estrangeiros têm, que nós não temos? Querem a lista?Campeonatos organizados em todas as categorias, inclusive com várias divisões no adulto. Já conhecem adversário, local e data dos jogos até o final da temporada e podem planejar com tranqüilidade.Infra-estrutura de clube incomparável com a nossa. Podem se preparar de forma adequada, estudar os adversários.Campeonatos mais disputados, com equipes do mesmo nível, com jogadores que trabalham juntos e são preparados desde a base. Eles pensam no futuro porque sabem o que estarão fazendo, onde estarão e quais os objetivos que querem alcançar daqui a dez anos. Não vou me alongar mais nesses itens, mas quero apenas dizer que estamos começando outubro e ainda não sabemos quantas equipes teremos no CNBM 2007/2008, nem quais serão as equipes, muito menos quando começará o campeonato. É certo que não teremos 8 equipes de bom nível.Falar sobre isso me causa uma profunda tristeza, e humildemente reconheço que realmente os técnicos estrangeiros são infinitamente mais competentes do que nós. Mas ainda estamos na UTI e não morremos.As mudanças necessárias, porém, estão muito além das quatro linhas.O período necessário para mudanças é mais longo do que imaginamos.

Carlos Rodrigues

Técnico de basquete de alta performance

carlao05@bol.com.br

Fonte : databasket.com.br

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