domingo, 23 de novembro de 2008

Entrevista Oscar

Falta patriotismo aos jogadores
Para Oscar Schmidt, seleção brasileira de basquete e os clubes estão em descrédito por falta de amor ao esporte

O ‘Mão Santa’ Oscar Schmidt, 50 anos, esteve em Londrina semana passada a convite do Sebrae/PR para dar uma palestra a empreendedores e profissionais liberais. Seguindo a mesma linha linha de trabalho de Bernardinho, técnico da seleção masculina de vôlei, as palestras motivacionais passaram a ser a nova atividade de Oscar desde que parou de jogar, em 2003 – seu último clube foi o Flamengo. O maior atleta de basquete do Brasil de todos os tempos e também recordista mundial de pontos (49.703 em 32 anos de carreira), Oscar disse com muito bom humor que está determinado agora a quebrar novos recordes, só que como palestrante. ‘‘Tenho dado entre 10 e 20 palestras por mês e essa aqui para vocês (realizada no Teatro Marista, em Londrina) é a de número 429’’, enumerou. Ele falou a uma platéia de 900 pessoas sobre ‘‘como vencer na vida jogando basquete no País do futebol e agora também do vôlei’’. ‘‘O basquete infelizmente nunca vai ter a repercussão que o futebol tem no Brasil. Eu, por exemplo recebi do rei Juan Carlos, da Espanha, o título de melhor jogador do mundo em um ano, mas quase ninguém sabe. Já o Ronaldo e o Ronaldinho todos sabem que já foram ‘o melhor do mundo’ (da Fifa)’’, reclamou. De uns anos para cá, com a decadência do basquete e a ascensão do vôlei, a situação piorou, conta ele.
‘‘Parece que ninguém mais reconhece quem joga basquete no Brasil. Tempos atrás um senhor reclamou pra mim numa padaria: ‘É Oscar, você precisa voltar para a seleção, porque o Benardinho parece que não tem mais comando sobre o time. Está uma porcaria!’ Eu ia falar o quê para ele?’’, perguntou aos presentes. Para o ex-cestinha, o que mais falta na seleção brasileira atual, que ficou fora das últimas três Olimpíadas, é patrotismo. ‘‘Sou filho de militar, sempre tive uma educação rígida e sei o que é ter ética e fidelidade ao meu País. Pra mim, o maior orgulho sempre foi defender o Brasil. Os garotos de hoje não têm isso’’, criticou, dando uma cutucada em atletas como Leandrinho, Anderson Varejão e Nenê, que atuam na NBA (a liga profissional norte-americana) e não foram para o Pré-Olímpico Mundial de 2008, na Grécia. Oscar, ao contrário, contou que ‘‘todos os anos saía morto da temporada na Itália’’ e vinha direto para o Brasil treinar na seleção. ‘‘E nunca recebi um centavo da seleção, perdia sempre as minhas férias e não tinha porcaria nenhuma de seguro para jogar, como hoje exigem atletas e dirigentes da NBA’’, comparou. O ala teve muitos convites, mas disse que nunca aceitou jogar na liga americana porque senão não poderia (na época) defender a seleção brasileira. Na entrevista a seguir, Oscar falou à FOLHA sobre outros assuntos:
FOLHA - Você acha que o basquete nacional tende a melhorar com esse novo campeonato da Liga de Clubes?
Oscar - É o passso fundamental para começar a melhorar. Finalmente a CBB viu que estava errada e vai deixar os clubes mandarem no campeonato. Mas espero que deixe mesmo. E os clubes têm que tomar conta do campeonato, criarem imediatamente o site da Liga para informarem a torcida.
FOLHA - Como você vê o enfraquecimento do basquete de Londrina?
Oscar - É uma pena. Londrina é uma praça que provou que gosta de basquete e sempre lotou o seu ginásio nos bons tempos. Eu vim jogar sempre em Londrina com o ginásio lotado. Não sei se os caras vinham para me xingar ou para acompanhar o time de Londrina. Mas isso faz parte... O problema é que houve uma rivalidade muita perigosa, criada pelo ‘seo’ Enio Vecchi (ex-técnico de Londrina) e aquilo poderia acabar em tragédia. Por pouco não acabou. Nós escapamos de pedradas e poderia até alguém ter dado tiro em alguém. Ele (Enio) incitou torcida contra mim. Mas isso é passado, deixa pra lá.
FOLHA - O que falta ao time de Londrina?

Oscar - É o mesmo que falta aos outros times de basquete do Brasil: retorno de mídia. No Flamengo, por exemplo, onde joguei por quatro anos, quase ninguém sabe que existe basquete. O basquete hoje não tem em televisão aberta, não temos resultados da seleção brasileira... Daí não tem como ter notícia. Esse é um grandes motivos pelo qual os patrocinadores fogem. Não tem retorno de mídia.
FOLHA - Quanto a ausência do Brasil nas últimas Olimpíadas prejudicou os clubes?
Oscar - Atrapalho bastante o basquete brasileiro. Inclusive foi fundamental para que não exista mais renovação de muitos jogadores. E agora a CBB é que tem que fazer isso, massificar o esporte através de escolinhas pelo Brasil. Na minha época o basquete era o segundo esporte, os campeonatos de clubes eram muito seguidos, os jogos do Sírio passavam na (Rede) Globo.
JK
Reportagem Local

Fonte : folhadelondrina.com.br

Mão Santa’ vira exemplo de sucesso e ataca CBB
Maior jogador do basquete brasileiro fala também sobre as vaias que recebia no Moringão
O maior craque da história do basquete brasileiro virou um exemplo de sucesso profissional. Aos 50 anos de idade, 32 deles em quadra, maior pontuador dos Jogos Olímpicos (893 pontos), Oscar Schmidt esteve em Londrina na última quinta-feira como palestrante da Semana da Pequena Empresa, promovida pelo Sebrae. O
"Mão Santa", campeão pan-americano em 1987 numa inesquecível final contra os Estados Unidos, falou para uma platéia de cerca de mil pessoas no Teatro Marista. Antes, no camarim, ele conversou com a imprensa sobre a crise no basquete masculino nacional, que não disputa uma Olimpíada desde 1996, sua ‘briga’ com a Confederação Brasileira de Basquete (CBB) e a sempre conflituosa relação dele com a torcida londrinense nos tempos em que disputava o Nacional.
Oscar disse que é praticamente impossível apontar apenas um motivo para a queda brusca de rendimento no basquete brasileiro, principalmente no masculino, mas que a qualidade técnica caiu bastante, levando muitos jogadores a trocarem o País por propostas milionárias no exterior.
"É difícil dizer qual o maior problema do basquete brasileiro. Falta qualidade técnica, falta de tudo um pouco. Os campeonatos têm pouca qualidade técnica, não existe massificação do basquete no Brasil e a CBB não faz nada para mudar o quadro", criticou.
Vaias
Quando defendia o Flamengo/Petrobras (e pouco antes, o Corinthians/Pony), no final da década de 90 e início dos anos 2000, Oscar jogou em Londrina várias vezes e invariavelmente era hostilizado pela torcida londrinense. E as brigas dentro de quadra e os xingamentos que vinham das arquibancadas, segundo ele, tinham um culpado: o técnico Enio Vecchi, que comandou o time de Londrina em oito temporadas, de 1998 a 2005.
"Os problemas que tive com a torcida em Londrina foram única e exclusivamente de uma pessoa irresponsável que era o técnico Enio Vecchi. E só não o processei pela intervenção do José Carlos dos Reis, dirigente na época, que pediu para eu relevar a situação". O JL não conseguiu repercutir a declaração com Enio Vecchi.
Liga
Há dois anos, Oscar criou uma liga independente de clubes que tentou enfrentar a CBB para ter um campeonato gerido pelos próprios times, com mais apoio aos jogadores. Não deu certo, pois a CBB conseguiu barrar contratos de apoio aos clubes na liga independente. E este ano, a CBB aceitou a criação de uma liga de clubes, que vai comandar o Campeonato Nacional, previsto para iniciar em dezembro.
"Pela primeira vez, a CBB vai autorizar uma Liga organizada e gerida pelos clubes, vamos ver no que vai dar. Só espero que a CBB não se meta na administração da Liga e que dê resultado. A gestão do Grego [presidente da CBB] é ditatorial, ele manda em tudo, mas não pode se perpetuar no cargo, que lhe concede poder demais." Oscar apontou como solução do basquete brasileiro a criação de escolinhas e a massificação do esporte com verba do governo.
Regime militar na seleção
Oscar Schmidt acredita que a seleção brasileira de basquete tinha que mudar os conceitos e implantar ‘um regime quase que militar’. "O futuro da seleção é implantar um regime quase que militar. O jogador não pode deixar de jogar por causa de uma dorzinha, tem que ter orgulho e vontade defender a seleção. Teria que punir jogador assim", avaliou. Para ele, o espanhol Moncho Gonçalves não devia ter aceito o cargo de técnico da seleção. " Eu disse a ele o que eu pensava, dei alguns conselhos, mas não deu certo." Ele também criticou o fato de astros brasileiros da NBA resistirem a jogar pela seleção.
Aurélio Cardoso
Fonte : jornaldelondrina.com.br

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